Invenções
- Tássia Pinheiro
- 12 de out.
- 2 min de leitura
Tenho 42 anos e inventei de aprender tocar piano. Já prestou atenção que chega uma idade que tudo que desejamos aprender parece uma “invenção” descabida? Sem proposito. Por que isso há uma altura dessas?
“Porque eu quero” deveria ser uma resposta completa. Um porquê intimo e valioso, desses que cada um encontra pra si e que sustenta suas escolhas.
Não estou estudando piano pra me tornar uma grande pianista, estou estudando para aprender. Esse é o meu porquê. Pra aprender. Pra voltar a estar na posição de aprendiz , de quem não sabe, de quem se vê diante de uma novidade que gera curiosidade e desejo e quer saber mais. Essa posição de aprendiz que provoca tanta coisa importante em nós e que depois de um tempo, desconhecemos. Com aprendiz eu me empolgo com avanços que podem ser considerados banais , fico nervosa quando a professora pede pra eu fazer a lição, fico orgulhosa de conseguir algo que não tinha ideia antes, penso em desistir porque acho que nunca conseguirei ser tão boa quanto imaginava, me questiono se isso é pra mim, suo frio e faço um esforço enorme pra conseguir que minhas mãos assutadas aprendam movimentos que nunca fiz...Eu sempre amei ensinar, e me parece que faz todo sentido que quem ama ensinar, ache formas de se descobrir como aprendiz também.
A minha superação não é apresentar um antes e depois grandioso, como se só isso comprovasse que valeu a pena a investida. O que estou superando é a verdade engessada de que há tempo para aprender novidades, de que adultos só fazem o que precisam , de que não há mais espaço pra “invenções” na vida de uma mulher de 42 anos com dois filhos. A minha superação é permanecer no lugar da curiosidade, da novidade, do movimento, do desconhecido. A minha superação é suportar o lugar do não saber e da falha, de fazer algo pelo prazer e não pela utilidade. Depois isso, não venderei curso online, não ganharei dinheiro com apresentações, estou aprendendo pra aprender, “Só” por isso. Pra aprender piano, pra aprender sobre mim, sobre meus limites e sobre minha teimosia que insiste em superar tudo que se coloca como imperativo daquilo que uma mulher pode ser depois de uma certa idade.




Comentários