O que eu posso fazer? Já fiz a besteira, tá feita, não posso fazer mais nada. Agora vou pagar pra sempre por isso? O que mais você espera de mim?

Ela ouvia tudo aquilo e doía, doía no singular e no plural.

Porque além dela tantas outras amigas ouviram a mesma coisa, e tantas outras ainda ouvirão.

Nesse momento são todos mais do mesmo. Não importa se é defensor da família de bem ou militante das causas importantes - Ela pensou.

Aquele pedido de arrependimento que mais tinha a ver com o alívio da própria culpa, do que uma tentativa de pensar em algo que pudesse naquele momento e depois dele, diminuir ou aliviar o mal causado...tinha mais ver com ele, não com ela. Então ele insistia: " O que eu posso fazer? O que você quer que eu faça?"

Era ela quem, depois tudo, deveria saber se portar, porque afinal de contas, de que adianta espernear a sua dor? Só vai pegar mal pra você mesma. Ou então era ela quem deveria dizer o que ele afinal deveria fazer.

Estava sobre ela (de novo) a responsabilidade de orientar aquela pessoa que sabia tanto sobre suas vontades e desejos quando decidia sobre sua vida e tão pouco sobre o que poderia fazer para cuidar daquela mulher sangrando diante de si, uma ferida que parecia de morte.

Porque se afinal de contas, ela tinha sido cortada, então o que mais ela queria? Ele não tinha como saber. Ela precisava dizer a ele.

Quer gritar a dor? Mas isso não resolve o corte, já tá feito, não aguento ficar aqui ouvindo isso - ele se queixava.

O que mais eu posso fazer? Me diga você, que foi cortada por mim e que deveria compreender que não sou capaz de ter uma ideia do que afinal de contas você ainda pode esperar de mim.

Ele deveria saber estancar o sangue, cuidar da ferida pra que não fosse tudo pior.

E ela, ela deveria saber que se ele a cortou, não deveria esperar dele o remédio pra essa ferida.

Ela soube. Ele não.

E aqui e agora começa uma série de contos: Delas e por Elas de Tassia Pinheiro (eu mesma, no caso). Qd puder e quiser. ❤